Cá em casa andamos nesta fase, o desfralde. Estamos a meio do processo. Com várias técnicas experimentadas mas sem duvida que a sintonia com a creche foi a que mais sortiu efeito. E sem duvida que eles é que ditam o ritmo do processo.
Gostei deste texto, que reforça que não existem timings corretos desde que cada criança esteja preparada. Depende sobretudo deles e não de nós, pais.
Nenhuma criança abandona as fraldas só porque o tempo está mais quente ou aos pais dá mais jeito. Este é um processo independente da vontade dos adultos e da chegada do Verão. Por isso, tenha calma e espere até o seu filho estar preparado para esta nova conquista.
Primeira coisa a saber: antes dos dois anos, nenhuma criança está preparada para deixar as fraldas. Claro que pode haver excepções, mas a maioria das crianças só consegue ter algum controlo sobre os esfíncteres e os intestinos a partir desta idade.
Segunda: tirar as fraldas não depende da vontade dos pais, mas sim da maturidade biológica e psicológica da criança. Tal como outras aquisições – andar ou falar, por exemplo – o mais importante é respeitar o ritmo de cada uma.
Terceira: o sinal mais evidente de que uma criança pode estar pronta para iniciar esta nova etapa de crescimento é manter a fralda seca durante algum tempo. O que quer dizer que já consegue reter o chichi.
Os três pontos acima reúnem consenso entre os especialistas na matéria: do norte-americano Berry Brazelton, o pediatra mais famoso do mundo, à britânica Miriam Stoppard, médica autora de vários best-sellers sobre cuidados infantis.
Tirar as fraldas, dizem ainda os entendidos no assunto, não tem de ser um momento de angústia e de stresse entre pais e filho. «Os bebés a quem se deixa que atinjam o controlo dos esfíncteres ao seu ritmo próprio aprendem depressa a usar o bacio e têm poucos acidentes. As coisas só correm mal quando os pais interferem com o progresso estável do seu filho, impondo-lhe horários ou esperando dele demasiado em pouco tempo», afirma Miriam Stoppard.
O problema é que os pais, muitas vezes, estão cheios de pressa para tirar as fraldas ao filho. «É óbvio que os pais estão com pressa. As fraldas são caras. Mudá-las é muitas vezes desagradável e inconveniente», reconhece Brazelton, lembrando, contundo, que «para evitar a ansiedade da criança, ela precisa de saber que a decisão é dela e que pode fazer tudo ao seu próprio ritmo».
«Respeitar o ritmo de cada criança» é também o conselho do pediatra Luís Pinheiro, chefe de serviço no Hospital de Cascais. «Quando os pais notarem que a fralda fica seca durante algum tempo, podem começar a pôr a criança no bacio ou na sanita de vez em quando», recomenda, mostrando-se contra ao presentes, como forma de encorajar a ida à casa de banho, e contra os castigos quando a criança tem algum descuido. «É preciso apoiá-la sempre. E quando consegue fazer chichi ou cocó na sanita, basta mostrar contentamento, bater palmas, fazer uma festa.»
Articulação com a creche
No colégio O Parque, em Lisboa, as sanitas para uso das crianças estão à vista de todos. As casas de banho não têm portas e ficam mesmo ao lado das salas de actividades. Parece quase um convite ao adeus às fraldas. Mas por aqui não há pressões para que isso aconteça. Em vez disso, espera-se pelos sinais de cada um. Marta Vilarinho, psicóloga e directora pedagógica do colégio, e Sofia Carlos, coordenadora, falam sobre tirar as fraldas aos miúdos como se fosse a coisa mais natural do mundo.
«E é um processo natural», afirmam. «Basta esperar pelo click deles. Depois é num instante», diz Marta Vilarinho, acrescentado que tirar as fraldas durante o dia pode durar apenas uma semana. Tudo sempre feito em articulação com os pais, claro. É preciso disponibilidade e coerência das duas partes, lembram, sublinhando que se trata de um processo gradual: começa-se por tirar as fraldas durante o dia (geralmente pedem primeiro para fazer cocó na sanita e só depois o chichi), de seguida durante a sesta e, por fim, à noite.
Com base na sua vasta experiência em assuntos de fraldas, Marta e Sofia aconselham os pais a esperar pelo sinal da criança e depois iniciar o treino, que não é um treino, é mais um acompanhamento: «Podem sentá-la na sanita ou no bacio antes e depois das refeições, quando acorda, antes do banho. Ou seja, nos momentos ligados às rotinas. Não é preciso ficar lá muito tempo. Basta um minuto ou dois. Se não fizer nada não faz mal nenhum. Mas é importante que não seja um momento desagradável. Até que um dia a criança descobre que consegue fazer.»
Marta Vilarinho recomenda ainda «resistir à tentação de voltar a pôr a fralda quando dá jeito aos pais, por exemplo durante uma viagem, com receio de haver um descuido e sujar a cadeira-auto» e «ter paciência quando eles pedem para ir à casa de banho de cinco em cinco minutos, devido à excitação da novidade».
Tem de ser no Verão?
No Verão a seguir à criança fazer dois anos é normal começaram as pressões exteriores (avós, tios, vizinhos) para que ela largue as fraldas. Mas será obrigatório tirá-las no tempo quente? «Claro que não», defendem Marta Vilarinho e Sofia Carlos. «Se a criança estiver preparada, o assunto resolve-se bem no Inverno», garantem. «Alguns pais escolhem as férias de Verão ou da Páscoa porque é quando têm mais disponibilidade. De facto, é preciso disponibilidade, mas nem sempre é possível conciliar a disponibilidade dos pais com a maturidade das crianças.»
Luís Pinheiro percebe que os pais insistam mais no Verão, porque, como está calor, as crianças podem andar com menos roupa e em caso de descuido tudo se torna mais fácil. Mas defende que «não há um ‘timing’ certo».
Não havendo ‘timings’ certos, podem existir ‘timings’ errados. «Quando nasce um irmão ou quando a criança está a adaptar-se a uma nova escola, não são boas alturas para investir na aprendizagem da ida à casa de banho. A criança tem mais coisas para lidar e corre-se o risco de regressão», alerta Sofia Carlos. Mas, às vezes, as pressões surgem antes de a criança completar os dois anos. «Tu tiraste as fraldas aos 18 meses», comparam alguns avós, ansiosos também por ver os netos crescidos. Alguns garantem mesmo que antigamente os miúdos deixavam de usar fraldas muito mais cedo. Luís Pinheiro lembra que «antes havia mais tempo, muitas mães estavam em casa com os filhos, muitos avós ficavam com os netos e este apoio directo poderia adiantar as coisas». Além disso, «as fraldas de pano eram mais desconfortáveis e as crianças percebiam mais facilmente que tinham chichi ou cocó».
Não há que ter pressa, reforça o pediatra. «Só me preocupo quando uma criança está quase a fazer quatro anos e ainda não começou a deixar as fraldas.»
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